OPINIÃO
Karla Sofía Gascón: quando uma comunicação ruim pode colocar tudo a perder

Por Bruno Vicente

“Ainda Estou Aqui” trouxe para o Brasil nosso primeiro Oscar. Queríamos também a estatueta de Melhor Atriz, com Fernanda Torres, mas, infelizmente, esse sonho foi adiado (de novo). A brasileira tinha a forte concorrência de Demi Moore, Cynthia Eviro, Mikey Madison (a vencedora) e Karla Sofia Gascón. E é sobre essa última que falarei. 

Gascón foi a protagonista de Emilia Peréz foi a primeira mulher trans a ser indicada na categoria de melhor atriz. A espanhola despontou como favorita a continuar fazendo história também como vencedora. No entanto, o cenário sofreu uma grande reviravolta, após polêmicas nas redes sociais e suas declarações controversas dadas à imprensa. 

A situação de Karla Sofía Gascón é um exemplo de como uma crise de comunicação não tratada de forma adequada pode colocar tudo a perder. No mundo digitalizado que vivemos, a informação é instantânea e tudo fica registrado. Ou seja, o conteúdo e a forma como comunicamos pode construir ou destruir reputações. 

Antes da crise explodir, a atriz poderia ter evitado todo o desgaste com uma estratégia simples: pensar antes de falar ou digitar. Parece óbvio, mas é comum que figuras públicas esqueçam em algum momento o tamanho do alcance e do impacto de suas palavras. E quando isso acontece, é o momento de colocar em prática um bom plano de gerenciamento de crise. 

No caso de Gascón, a forma como ela lidou (ou deixou de lidar) com a repercussão negativa de suas postagens e declarações só agravaram ainda mais o problema. A atriz adotou uma estratégia de terceirização da culpa, eximiu-se da responsabilidade ou de um pedido sincero de desculpa, e a falta de uma explicação coerente amplificou ainda mais a polêmica. 

O público e a mídia esperam transparência e autenticidade e, quando isso não vem, a confiança se rompe. E, sem confiança, pode ser que tudo que foi construído se perca em pouquíssimo tempo. Ao consultar a jornalista e crítica de cinema Rafa Gomes sobre o assunto, a resposta que tive foi que o impacto na campanha da premiação foi significativo. 

A Netflix, por exemplo, retirou Karla Sofía Gascon das ações de promoção do musical. Ao mesmo tempo, membros da Academia do Oscar demonstraram receio em votar na atriz e também no longa. Na avaliação da especialista, há uma preocupação na Academia em demonstrar um grande distanciamento com o que o público quer assistir. 

E essa possibilidade de distanciamento pode gerar um efeito dominó na premiação com perda de público, de audiência, de relevância e, é claro, de dinheiro. O episódio protagonizado por Gascón fora das telas de cinema é um alerta de como uma comunicação ruim pode resultar em consequências desastrosas e irreversíveis. 

Na era da hiperconectividade, a reputação é tão valiosa quanto o talento. Portanto, saber se comunicar de forma clara e responsável é fundamental não só para construir sua marca pessoal, mas também para evitar que erros e desgastes afetem a percepção do público e destruam suas conquistas. 

Bruno Vicente é jornalista, atuando em assessoria de imprensa, gestão de crise e linguagem simples




 

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