Por João Frey
Eu não sei se é sério o vídeo em que Felipe Neto anuncia sua pré-candidatura à Presidência da República. O que eu sei é que é uma peça de comunicação confusa. A impressão que dá é que ele tentou fazer um vídeo inspirado no de Nikolas Ferreira sobre o pix, mas acabou entregando uma peça que parece um mashup de Getúlio Vargas e Benito Mussolini na era digital. Ficou esquisito.
Vamos começar pelo começo: o sujeito aparecer vestindo uma camisa preta, à frente de um fundo iluminado com uma luz meio verde militar e abrir sua fala dizendo: “Essa é uma mensagem para a nação brasileira” dá uma sensação meio “Camisas Negras”.
Vamos seguir, que talvez tenha sido só uma má impressão inicial.
Mas ele insiste num tom de fala mais grave, mais solene e em olhares intimidadores. Uma coisa démodé.
O vídeo vai avançando e a escolha de palavras vai deixando mais evidente essa aproximação com o autoritarismo. Ele usa expressões como “Ministério da Verdade”, “guardião da verdade”, “porta-voz da verdade” e fala sobre os livros didáticos retratarem a vontade da maioria. É, sem dúvidas, um afastamento, pelo menos retórico, da esquerda e sua defesa das minorias.
Vamos à segunda parte do vídeo, quando ele anuncia o lançamento de uma nova rede social: a “Nova Fala”. Aí já tira da gaveta mental a “Novilíngua” do livro 1984, do George Orwell, aquele que há uns anos a esquerda amava e hoje quem ama é a direita.
Já chegando no fim do vídeo o Felipe Neto encarnou o populismo paternal de Getúlio Vargas: “É isso o que eu quero ser para o povo brasileiro: um pai tanto generoso quanto vigilante”. Ele mesmo percebe que não combina com ele esse papel e diz na sequência que pode então ser um irmão mais velho.
Claro que ainda é cedo pra entender o que foi esse vídeo: se foi um bait, uma esquete, uma guinada ideológica ou só uma peça desastrada mesmo. Felipe Neto fez fortuna com as redes. Sabe usar sua linguagem. Por isso acho que é só o começo de alguma coisa que – quando soubermos melhor – vai dar algum sentido a essa confusão.
João Frey
Jornalista, sócio da Agência Nuvem