Por Tuliana Rosa
A recente instalação do Prisômetro na cidade de São Paulo é um exemplo de como o marketing político pode ser utilizado para moldar percepções, consolidar narrativas e ampliar a legitimidade de uma gestão. Para estrategistas políticos, essa iniciativa demonstra o poder da comunicação institucional em transformar a administração pública em um ativo eleitoral. O Prisômetro não apenas fornece dados, mas cria uma experiência visual e emocional que associa a imagem da gestão à segurança e à eficiência.
Instalado no Centro Histórico de São Paulo, em frente ao Centro de Comando do Smart Sampa, o painel tem dimensões imponentes e exibe, em tempo real, o número de prisões efetuadas, foragidos capturados e veículos recuperados pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). Ao estar vinculado ao sistema de monitoramento Smart Sampa, que conta com 23 mil câmeras de vigilância, o Prisômetro traduz uma estrutura técnica em um símbolo de controle e ordem.
Do ponto de vista do marketing político, a força dessa iniciativa está na capacidade de transformar gestões administrativas em narrativas de impacto. O prefeito Ricardo Nunes posiciona o Prisômetro como uma resposta direta às demandas da população por mais segurança, atendendo a um anseio coletivo e reforçando sua imagem como gestor atuante. A exibição constante dos dados gera uma percepção de ação contínua, um efeito fundamental para fortalecer a confiança do eleitorado.
O uso da segurança como pilar de comunicação política é uma estratégia consagrada. Questões ligadas ao combate ao crime têm forte impacto emocional e figuram entre as principais preocupações do eleitor. Estratégias visuais, como o Prisômetro, potencializam essa narrativa ao tornar tangível um conceito abstrato: a gestão passa a ser percebida como responsável direta pela segurança. Assim, mesmo sem uma redução concreta da criminalidade, a população enxerga um governo ativo e vigilante.
Contudo, para especialistas e opositores, esse tipo de estratégia pode ocultar fragilidades estruturais na política de segurança pública. A eficiência da prisão como solução isolada é questionável, e críticos apontam a necessidade de maior investimento em prevenção ao crime, programas sociais e policiamento comunitário. Também há debates sobre os riscos do reconhecimento facial e o potencial de vieses discriminatórios no sistema de monitoramento. Do ponto de vista do marketing político, no entanto, o fundamental não é a discussão técnica, mas sim a construção da percepção pública.
Narrativas bem estruturadas, aliadas a ferramentas visuais impactantes, têm o poder de definir o sucesso de uma gestão e influenciar disputas eleitorais. O Prisômetro, ao criar um vínculo direto entre a gestão municipal e a sensação de segurança, é um modelo bem-executado de como o marketing público pode reforçar a identidade de um governo e consolidar um discurso favorável. Cabe à oposição e a outros atores políticos compreenderem essa dinâmica e desenvolverem contra narrativas eficazes para disputar esse espaço na opinião pública.
Tuliana Rosa
É jornalista e estrategista de comunicação com mais de 20 anos de experiência em assessoria de imprensa, gestão de crise e construção de narrativas para o setor público e político.